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Tem o "sorria e acene” e tem quem realmente defende a causa

Desde muito antes de trabalhar com diversidade eu já era o adolescente sem jeito, rebelde sem causa, ingrato com meus convívios e que amava criar conflitos sem motivos.

Essa opinião é muito comum quando é vinda do lado que não sopre nenhuma opressão ou ao menos não a mesma que a sua.


Uma vez no mundo corporativo, jovem e assustado com todo aquele novo mundo que eu nunca havia sequer sonhado sendo um saxofonista de barzinhos cariocas que vivia na periferia, eu soube calar esse impulso de falar e me posicionar. E pra ser bem sincero, eu sempre achei que eu não sabia me posicionar, e por isso me calava regularmente como forma de evitar constragimentos.


Porém quem viveu, vive e se incomoda verdadeiramente possui um limite muito baixo para certas coisas. E o meu se rompeu bem facilmente. Já perdi amizades, fragilizei relações de trabalho e está tudo bem. E quer saber de onde vem esse tudo bem? Do fato de que eu não fui racista/LGBTfóbico/capacitista/sexista e nem flertei com nenhum parente dos citados anteriormente. Custou-me coisas? Deveras. Mas não a minha paz de sentar na cadeira de opressão que já sediou pessoas que me fizeram muito mal.


E aqui eu trago a reflexão principal: quem só sorri e acena e quem realmente luta pelas pessoas?

“Sejamos ativistas e não militantes”, nos disseram tão errados quanto poderiam estar.


Quer me ver desmaiar por dentro é me falarem essa frase. Ela em seu contexto autoral até tem um pézinho racional aceitável, mas seu emprego real quando usado nos dias de hoje é: não fale mais do que eu quero ouvir.

Reclame de racismo sem reclamar do racista. Simples.

É perceptível pra todos que queiram, que se posicionar sobre coisas que são crimes, e até mesmo defendidas por políticas internas, como compliance, ética, conduta e etc, é um risco enorme de carreira. E alguns mais doidos enfrentam esses riscos.


A maioria das pessoas vai chorar na call, comovida com a história da pessoa trans que morou na rua, mas também são as que vão tentar silenciar o caso de transfobia. Esse é o time sorria e acene, ou time pinguins como gosto de chamar.


Agora vamos falar de algo ainda mais óbvio sobre o comportamento-pinguim.





Atenção e influência são as duas novas moedas mundiais. Aonde elas vão o dinheiro segue. Ambas iniciam sua vida de forma autônoma, e nós podemos tentar surfar a onda de suas existências. Por mais que algumas pessoas escolham viver no pântano na ignorância, a maioria das pessoas consegue perceber todos os comportamentos e ideais sob a mais clara luz do dia. Ou seja, já possuem nossa atenção. Não que seja boa, mas está lá. Daí veremos projetos de Change Management, implementações de novas metodologias, mudanças de mindset etc… Tudo isso requer influência para que as pessoas colaboradoras se movimentem e sob a influência cheguem lá.

Agora eu te pergunto: qual o poder de influência de uma pessoa ou um coletivo de pessoas que esconde, minimiza, causa e relativiza coisas como assédio sexual, racismo, ameaça e etc?

Alguns os seguirão sorridentes, pois compactuam com muito disso. MAS felizmente nosso número como pessoas não pertencentes ao time-pinguim vem crescendo.


As lideranças comumente se apegam na sensação de que tudo a eles pertence, e sendo assim, fazem das empresas seus quintais de casa. Mas lembra de atenção e influência? Atenção negativa e influência negativa repelem dinheiro de forma magnética. Usemos o caso da Americanas de exemplo fresco na memória de todos nós. Os últimos anos foram de muito chamado para a importância de diversidade e inclusão, e de fato a grande maioria olhou. E lá ficaram, olhando. Como um pinguim que encara a praia.


Um dos últimos artigos de diversidade da Harvard Business Review aponta para a NECESSIDADE das lideranças saberem como o contexto social afeta o contexto pessoal das pessoas que consequentemente afeta o contexto profissional dela que consequentemente afeta sua performance. E isso não é algo que só Harvard é capaz de pensar, todo mundo daqui já falou isso centenas de vezes. Mas enquanto houver predominância de pinguins sorrindo e acenando, de falsas lágrimas, de comoções rasas como piscinas infantis, não haverá troca da moeda atenção/influência. Discursos de word não movem mais ninguém.


PRECISAMOS de pessoas que estejam dispostas a pontuar “Ei, isso é racista e isto é inadmissível” e precisamos que as instituições não as penalize por isso. Precisamos de pessoas que tenham poder de decisão e que cheguem em pessoas que sofreram discriminação e digam “Ei, sinto muitíssimo pelo o que te aconteceu, e reconheço nosso erro nisso. Como posso te ajudar nesse momento?”. Precisamos de comprometimento empático. Comprometer-se com números de um dashboard não resolve o problema. A gente já deu esse passo faz tempo.


Então sempre meça suas atitudes e reflita se elas são realmente eficientes e movidas por uma empatia e comoção genuínas ou se são apenas um "Sorria e acene…Sorria e acene".

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